Dekasseguis nipo-brasileiro
Saúde mental, emocional e física em movimento
(Psicoterapia individual, casal, família, grupo)
Olá, a todos e todas!
Tudo bem?
Hoje estou aqui trazendo um assunto que é voltado mais sobre a comunidade dekassegui nipo-brasileira, por se tratar de um cenário e um contexto muito específico, do qual meu conhecimento e experiência de vivência em 10 anos no Japão (13 anos já retornado) me permitem. Essa comunidade, parte da nossa sociedade, é constituída por pessoas assim como eu, que diante de um ou mais objetivos a serem alcançados, e que na ocasião no Brasil não era (ou não é) possível realizá-los, ingressaram para o Japão partindo do Brasil, ou seja, descendentes de japoneses ou cônjuges sem descendência. Essa experiência é muito subjetiva quanto ao que representou ou representa para cada pessoa. Mas ser imigrante é uma experiência que mexe com tudo em nós, mental, emocional, espiritual e fisicamente, pois estamos em movimento contínuo com nossas emoções e nosso corpo desde que começamos a planejar nossa partida do país de origem, durante a viagem aérea de até 36 horas em média, a chegada em um país totalmente diferente (o choque cultural, ainda que sejam descendentes), até mesmo nos retornos (de férias ou definitivo) ao nosso país de origem novamente. Então, compartilho um pouco desse fenômeno conhecido como dekassegui nipo-brasileiro com o qual me identifico (ou melhor, os profissionais fundadores da RM Terapias Clínica) como pertencente, seja com as histórias de vida, a linguagem de experiência vivencial/cultural e costumes desenvolvidos, os desafios dos pais e filhos, dos pais ou das mães solo em território diferente, o choque de culturas, choque cultural reverso, as leis, as acolhidas e não acolhidas nos dois países, as saudades, as lágrimas e os muitos risos e alegrias, etc. Sobretudo, ressaltar a importância principal que é de cuidar da saúde mental, emocional, espiritual e fisicamente de si, do casal, da família, enfim, de todos envolvidos.
“Sair temporariamente de seu lugar de origem.”
Para começarmos esse assunto é importante explicar um pouco sobre ‘Dekassegui’ palavra japonesa que significa ‘sair temporariamente de seu lugar de origem para ganhar dinheiro (ou estudar) em outra região dentro ou fora de seu país’. No Japão as pessoas saíam de pequenas regiões para as cidades maiores em busca de trabalho melhor remunerado, fosse por escassez de oportunidades ou pelo extremo inverno que interrompia suas produções agrícolas indo para as regiões mais quentes, até melhorar as condições.
'Como imigrante
terá que ter ‘habilidade extra’
Se olharmos para a história lá trás, final do século XIX e início do século XX, a relação de emigração-imigração entre Brasil-Japão começou desde 1908 com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses em nosso país, tendo que se adaptar com muita dificuldade, em meio a decepções e conquistas. São várias as gerações que emigraram para o Japão até hoje nessa busca por solucionar a dificuldade financeira da família, ou de si próprio, na tentativa de realizar um sonho ou ter melhores condições no país de origem ao voltar. Como imigrante, terá que ter ‘habilidade extra’, adaptando-se com outra cultura, a língua e, ao retornar ao seu país, requer essa mesma ‘habilidade’ de se re-adaptar novamente em algumas situações, considerando que, o nosso país de origem nunca estará igual de quando saímos, seja política, econômica e socialmente.
'Crianças brasileiras e o
grande desafio no ambiente escolar'
Nos tempos atuais os casados costumam trabalhar juntos, assim ganham mais para realizar os sonhos que os levaram ao Japão. Também levam seus filhos, e a presença das crianças brasileiras tornou-se um grande desafio no ambiente escolar e em casa, pois as crianças tinham/tem o desafio de aprender sua língua materna e a língua do país, ou seja, o japonês básico em escolas brasileiras (particular), e às vezes até uma terceira língua, parte do quadro de disciplinas de tal escola. Contudo, tornando-se um pouco mais desafiador quando passa estudar diretamente em escola japonesa aprendendo a língua japonesa integralmente como nativo por não haver custos escolares. E o que parece desafiador e difícil no início, no futuro, uma benção aos pequenos, se bem conduzido entre pais e professores com o acolhimento necessário a esta criança, pois terão melhores oportunidades em universidades locais ou de trabalho. As dificuldades do dia a dia, sem o apoio emocional e na aprendizagem da criança pelos responsáveis, pode facilitar o distúrbio de aprendizagem, que costuma afetar as crianças em idade escolar e estimulando o desenvolvimento de problemas com a saúde, como estresse, depressão, síndrome do pânico, tristeza, sentimento de impotência, de não pertencente, transtorno bipolar (quando há alternâncias do humor) entre outros, são alguns exemplos, e se nada for feito levará para a vida.
'Um novo sentido às suas vidas'
Esses imigrantes querem atribuir um novo sentido às suas vidas, e muitos são bem determinados. É importante considerar que há muitos aspectos psicológicos inerentes na situação de migração. Os dekasseguis vão à busca de trabalho, apesar da rotina puxada no Japão de até seis dias úteis e até 12 horas por dia, e boa parte trabalha em linhas de produção em fábricas. E por isso ficam tão exaustos, que o pouco tempo que resta eles não praticam exercícios ou saem para se divertir, aproveitando para dormir ou evitar gastar. A dificuldade da língua estrangeira acaba sendo uma barreira na oportunidade de falar diretamente com seus superiores, por exemplo, dependendo de alguém ou tradutores para se comunicar, e nem sempre se traduz do jeito desejado (sendo de forma reta, pouco simpática), talvez até pela correria que é o trabalho, dependendo do tipo de serviço. No Japão tempo é dinheiro.
O distanciamento dos seus familiares traz a solidão, e os preconceitos contra estrangeiros (não de todos) pode isolá-lo em casa. Por outro lado, posso dizer e afirmar que também há muitos nativos (japoneses) que gostam dos dekasseguis e que respeita essa luta, além de ajudar com o acolhimento tão necessário.
"Como manter sua saúde equilibrada? Seguem algumas dicas!"
'A resiliência é uma dádiva
quando a entendemos e colocamos em prática'
Podemos pensar que as dificuldades, apesar de serem desagradáveis, também nos impulsionam a crescer. E quando você se lembra do motivo que te levou até ali, dos seus objetivos, dos seus sonhos é nesse momento que você pega essas dificuldades e tenta reverter ao seu favor. A resiliência é uma dádiva quando a entendemos e colocamos em prática. Uma boa chance é aceitar e conviver com a cultura daquele país de coração aberto, não julgando tal costume, mas ao contrário disso, procurando entender o por quê. E aprendendo coisas novas, sendo empático, e criando seu arcabouço de experiência que poderá ser muito útil no futuro. Lembrando que alguém pode julgar você por ser como é com a sua cultura, ao invés de te entender. O Japão é um berço esplêndido de diversidades culturais! Aproveite!
'Muitas vezes, a língua estrangeira
se aprende na tentativa e erro'
Para quem vai ao Japão existem cursos gratuitos da língua japonesa, como por exemplo, das prefeituras ou outro órgão público. Reservar parte do que ganha com seu trabalho para o lazer é importante, seja de carro, seja de trem ou a pé. Mesmo que naquele momento não tenha uma reserva, há vários lugares em que a pessoa pode visitar/passear que são gratuitos e muito legais! Faça algum curso, pratique algum esporte ou academia que te faça feliz realizá-lo, provavelmente, você vai encontrar pessoas que trocarão boas ideias com você, amplie sua rede de amizades, pois tem empresas japonesas bem receptivas, e as que são brasileiras também. Muitas vezes, a língua estrangeira se aprende na tentativa e erro, a partir de leituras feitas em casa, principalmente no início, e depois praticadas no trabalho ou passeio, supermercados, departamentos, etc. Só não "estacione no tempo" porque está cansado ou por não querer gastar com você, ou com a família. O tempo passa de qualquer jeito, então, não perca tempo!
'Não desista e tenha pensamentos
e atitudes positivas!'
Na própria prefeitura tem muitos livretos com informativos em várias línguas, ou até mesmo alguém que fala português lá. E para quem retornou ao Brasil (ou vai) saiba que muita coisa está diferente. Peça orientação aos que estão aqui. Uma das situações que mais me confundiu, após 10 anos, foi sobre os preços das coisas, pois eu não conseguia perceber o que era caro, barato ou justo de certos produtos, e as pessoas podem se aproveitar de você, nesse caso. Até mesmo o nosso comportamento muda, tornando-se um pouco mais “discreto” ou mais “formal” do que éramos. As pessoas estranham quando você mistura as duas culturas, principalmente na hora de falar usando os dois idiomas ou no comportamento de agradecer mais com o corpo, o que no Japão é muito comum.
Alguns estudos apontam que retornar ao seu país de origem traz menos sofrimento psíquico. Outros trazem em seu arcabouço de estudo um ponto de vista diferente, pois sugere um ‘choque de reentrada cultural reverso’. Muitos não estão preparados para o retomo e acaba que constitui uma ‘nova migração’.
'Uma crença, uma religião, a espiritualidade'
Mas não desista e tenha pensamentos e atitudes positivas e pense que é por um tempo determinado quando emigrar para outro país e estiver imigrante. Se você tem/segue uma crença, uma religião, ou dedica-se a espiritualidade, seja qual for sua forma de buscar vitalidade, equilíbrio, um sentido, dedique um tempo para isso. Procure fazer amizades sinceras, ou quem sabe até ter um romance saudável, onde você e o/a outro/a são livres para viver algo agradável, de troca de experiências, de apoio mútuo, de companheirismo.
'Fazer psicoterapia com psicólogas/os'
Sei que no Japão já é possível fazer psicoterapia com psicólogas/os brasileiras/os, assim como no Brasil é comum. Acho que no meu tempo não havia no Japão. Apenas atente-se para se certificar de que tal profissional escolhido realmente está habilitado para realizar atendimentos fora do Brasil (ou se realmente é um/a profissional graduado em Psicologia, seja lá ou cá, buscando informações), e pratique exercícios físicos durante a semana tornando isso um hábito.
Caros leitores, dekasseguis (e não dekasseguis) ser imigrante em qualquer país é um processo de formação cultural diverso e de geração de novos hábitos que passam a fazer parte da nossa vida a partir daí. Buscando se conscientizar de que estamos em constante desenvolvimento que permite que o indivíduo se adapte aos novos desafios ambientais agregando outros saberes o tempo todo. E quando não consegue se adaptar, é aí que o sofrimento começa para alguns. Então, cuidem da saúde mental para ter um pensamento sempre atualizado e aberto ao novo, pratique exercícios físicos para que o seu corpo possa corresponder as suas expectativas no trabalho e no lazer, agora ou no futuro, e que seja uma longa caminhada com saúde aonde quer que você vá ou esteja.
Abraços!
Até a próxima!
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