Acolhimento, Respostas, Sentido...
Olá! Espero encontrá-los bem!
Hoje eu gostaria de poder compartilhar um assunto que, possivelmente, seja de grande apoio em diversos momentos na vida de algumas pessoas. A espiritualidade/religiosidade, talvez, nunca tenha sido tão buscada, ou praticada, nestes últimos dois anos com a pandemia do coronavírus, Covid-19, e suas consequências para além disso. Durante esse tempo de dois anos ficamos em meio ao isolamento social obrigatório, e refugiados em nossos lares, e assim tentamos evitar a contaminação em massa. Muitas pessoas sentiram-se tolhidas naquilo que, até então era normal, sua liberdade de ir e vir, trabalhar e trazer o sustento para o seu lar, assim como suprir suas necessidades mais íntimas. Hoje, 2 anos e 6 meses após, desde que a pandemia começou, mostra-se uma realidade muito difícil economicamente para muitos e a situação da busca pela própria sobrevivência e de sua família tornou-se extremamente uma dura luta diária, a famosa frase “matar um leão por dia”. Atualmente, muitas pessoas passam por necessidades extremas como, privação de alimentos, o mais básico inclusive, até a perda (ou ameaça) de perder o teto onde moram por não haver mais condições de prover uma renda financeira digna. Ter alimentos, água, luz e um teto sobre suas cabeças, com certeza é o mínimo que um ser humano precisa para viver com dignidade, paz, saúde física, mental e espiritual. Quando o mínimo lhe falta, por não poder arcar com suas necessidades, então, esse ser humano passa a questionar a sua própria existência nesse mundo, onde supostamente ele se sente abandonado à própria sorte.
"Quando eu 'olho pra cima' em oração, é porque minha busca humana cessou... Ao transcender, reflito sobre mim, e 'enxergo' uma nova luz, um novo caminho para continuar..."
Para compreendermos um pouco melhor sobre o tema é importante salientar que a espiritualidade é pautada na busca de um sentido olhando para dentro de si e vivendo a experiência do transcender a própria capacidade humana vivida no dia a dia. É uma (re)construção de sentidos. A espiritualidade não está, necessariamente, relacionada a uma religião (algo institucional e diverso). É uma busca por mudanças que faça sentido para além do que é restrito, esgotado, ou seja, mundano.
Já a religiosidade pode-se dizer que é a própria expressão da espiritualidade de quem o pratica, um conhecimento diferente do racional, uma forma como o ser humano se relaciona com a sua crença e a religião. Ou, ter sua religiosidade e crença em Deus fazendo suas orações, ou meditando, por exemplo, mas não seguir uma religião institucionalizada, necessariamente. É algo subjetivo (peculiar a cada ser) e pode representar a dignidade pessoal, senso de valor, consciência ética e da responsabilidade pessoal ou com outrem.
O entendimento do ser humano, sobre sua existência e das coisas, acontece diante das oportunidades mundana vivida no seu cotidiano de acordo com sua compreensão do que lhe faz sentido. A espiritualidade/religiosidade, talvez, seja um caminho escolhido que, em momento de grande desafio, é o que vai acolhê-lo e impulsioná-lo a “enxergar” respostas para outras possibilidades, e sentido, onde antes não conseguia ver.
Nós estamos constantemente buscando por um sentido das coisas e de viver para continuarmos, e assim, vamos nos transformando e criando sínteses que nos convém.
No “antigo normal”, sem a pandemia (e ainda meio longe de voltar a ser como antes), sempre foi assim e será pela vida toda, como nas convicções abaixo, por exemplo:
"Tenho meu trabalho, pago minhas contas e garanto meu sustento, e ajudo minha família."
"Faço minha faculdade e logo terei melhores oportunidades!"
Mas, e quando deixa de fazer sentido? A experiência de um vazio existencial (quando nada mais parece fazer sentido), o medo do imediato e tendo que pensar - “O que será o amanhã?” - e sem condição de obter uma resposta também imediata, desenvolve uma ansiedade muito grande a espera de ajuda, mais do que urgente e que não acontece na mesma proporção. É como se a pessoa olhasse para todos os lados e não visse uma saída. Então, a sensação de estar em desamparo, e jogado/a a própria sorte, fortalece a tendência de se buscar na espiritualidade/religiosidade um alento e uma compreensão como ajuda que nunca lhe é negada, ou ao menos, alivia a dor da alma que, muitas vezes, chega a doer no corpo físico também. Mas aquele que não consegue buscar por nenhum tipo de ajuda, pode levar a depressão, uma doença séria.
É possível perceber que as pessoas que praticam a espiritualidade/religiosidade estão associadas a uma positividade no viver, demonstração de bem-estar psicológico, satisfação em continuar a vida, o que leva a uma melhora da saúde física e mental. A pessoa consegue restabelecer um equilíbrio para que o “barco não vire” com ela.
"A espiritualidade promove mudança (re)despertando o ser para a vida com base numa crença subjetiva de que - Tudo vai ficar bem!"
Pautar-se somente no raciocínio lógico não dá conta. No momento crítico desses dois anos de pandemia, as pessoas sentiram a falta de afeto do outro, do tocar e ser tocado, das trocas de experiências, do calor, da sensação do “tamo junto!”, popularmente comentado, principalmente entre os jovens. Talvez, o que chega mais próximo a isso, pelo menos com a ausência do toque, foi o encontro virtual. Um pequeno alívio, um pequeno afago nos sentimentos ao ver um familiar ou um amigo querido. "Ai que saudades, não é?!"
" A pratica, da Espiritualidade/Religiosidade, pode significar Lugar de Repouso..."
Quando a pessoa tem uma crença e faz uma oração ou meditação, transcendendo-se para além da própria capacidade humana na busca de um sentido que o/a ajude enxergar outras possibilidades, há uma alteração considerável no cérebro humano. Uma pesquisa importante realizada por Andrew Newberg - Professor e Diretor de Pesquisa Marcus Institute of Integrative Health | Thomas Jefferson University and Hospital, considerou que as pessoas que praticam meditações (ou orações), ao analisar a neurofisiologia das práticas religiosas e espirituais, pode-se observar as nítidas mudanças de atividades cerebrais representadas por cores em determinadas regiões do cérebro, devido ao fluxo sanguíneo. A parte frontal do cérebro, responsável por concentração e focalizar atenção, mostrou-se mais ativa durante a atividade.
A experiência da espiritualidade/religiosidade é singular e pode apresentar resultado positivo na medida em que a pessoa consegue, através do equilíbrio emocional, enfrentar os desafios estressores. Mas pode ser considerado uma experiência negativa, uma vez que houve uma quebra da integração interna do ser relacionado a valores religiosos; sentimentos de raiva de um Deus , deuses ou do universo que parece tê-lo abandonado; dúvida sobre sua crença, ou até sentir-se culpado por tudo que está acontecendo, talvez pela falta de fé, assim é a compreensão. E isso (essa quebra) não estimula o ser humano a mudanças positivas, e o deixaria paralisado em si mesmo e em condições de desamparo emocional.
“A espiritualidade é uma expressão para designar a totalidade do ser humano enquanto sentido e vitalidade. Significa viver segundo a dinâmica profunda da vida. É uma construção complexa e multifacetada, que envolve a vida interior de cada ser humano e está ligada à busca de sentido.”
(Do livro “Psicologia & Espiritualidade”, por Moraes & Silva, 2015).
Por fim, caros/as leitores/as...
Nós somos seres que não sabemos viver só e a 'deriva', pois logo arranjamos uma 'bússola', uma forma de auto-resgate para nos orientar o tempo todo, seja através da espiritualidade/religiosidade em um Deus, em deuses, universo, ou seja em qual for a direção que queiramos direcionar e concentrar nossa fé, nossa crença. Somos livres para buscar sentidos e fazer sínteses que nos levem a uma compreensão da vida e da existência humana. Que nos acolha em nosso sofrimento, que nos traga respostas e que nos dê sentido para continuar a caminhada o tempo todo. A pandemia da covid-19 foi e está sendo um fenômeno que nos desafia. E o tempo todo, vamos empregando novos caminhos que são buscados em nossas meditações para o enfrentamento nada fácil dos novos dias em que nos sentimos 'sem chão' e com a sensação de estarmos largados a própria sorte, muitas vezes. Sim , precisamos nos alimentar, ter um teto sobre nossas cabeças e ter aqueles que amamos perto de nós, entre outras necessidades. Mas também não é diferente para muitas pessoas que é necessário alimentar a alma através da espiritualidade/religiosidade, da fé e do amor ao próximo também. Que sejamos cada vez mais fortes toda vez que um novo desafio aparecer, e que a fé na vida, seja um impulsionamento constante!
Abraços!
E fiquem bem!
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