Olá, pessoal!
Será que existe alguém nesse mundo, que nunca sofreu uma perda, e viveu o luto?
Estar em luto pelo seu Pet, também é uma experiência tão importante como estar em luto por alguém. Talvez, esse assunto, não seja o mais procurado por você para ser lido, porém, neste artigo, quero que você se sinta mais acolhido!
O Luto é Humano, seja qual for o objeto.
Falar sobre o luto e o enlutado é um assunto que muitos de nós (ocidentais) não gostaríamos nem de pensar devido sua complexidade e dor, e que gera medo, rejeição e uma sensação angustiante. É devido questões existenciais como a transitoriedade da vida, a efemeridade, que são inerentes ao processo da morte e do morrer, que são frequentemente evitadas. Desde que começamos a compreender o que é viver, compreendemos também a finitude da vida, que é a única certeza que temos. E a morte é um fenômeno inerente ao desenvolvimento do ser vivo e que faz parte do ciclo vital.
A morte de alguém (ou pet) que amamos pode trazer um efeito “detonador” na vida dos que ficam. O luto é uma condição pela qual o indivíduo precisa passar, mas há diferenças significativas no modo de se compreender o luto para cada pessoa. O enlutado pode passar pelas mais variadas reações emocionais, e também fisiológicas, e isso pode interferir em diversas áreas da sua vida, como vida pessoal, trabalho, faculdade/escola, etc. O enlutado pode se sentir realmente “sem chão”, pois acontece uma grande desorganização na sua rotina existencial, além da experiência de muita dor. Uma dor imensurável. Mas, se o luto conseguir fluir naturalmente, saberá que a dor também te fortalece com o passar do tempo, o que chamamos de resiliência.
“o rio seguirá a margem de acordo com o que é natural, ainda que haja obstáculos”
A pessoa enlutada precisa viver seu luto, do seu jeito, e é a melhor recomendação para ela nesse período. Isso é saudável, não deixar de externalizar seus sentimentos, de deixar fluir aquele choro que está fácil e que, muitas vezes, parece tão difícil de conter ao se recordar da sua perda (então, não contenha). E, independente de como cada pessoa encara esse momento, é normal que ela (a pessoa enlutada) passe por algumas fases, por exemplo, quando perde um ente querido, mas pode ser por qualquer outro objeto também:
* Negação - evitando contato com a perda em questão, ou não querendo falar sobre o assunto;
* Raiva - "Por que isso aconteceu comigo?”, e se revolta por não haver resposta cabível, e seu desejo é de trazê-la (o) de volta;
* Culpa - causado por uma decisão ou um desentendimento antes da perda;
* Depressão - que é esperada nesse período do luto que é uma grande tristeza (mas não confundindo, ou até chegando ao transtorno depressivo, que já é outra situação e grave);
* Aceitação.
"A superação da perda é uma construção diária"
Essas possíveis fases, não são uma regra pra todos, e nem seguem uma ordem exata, necessariamente. Cada pessoa tem uma forma de ver e sentir o luto. A superação da perda é uma construção diária.
Quando o luto é vivido e, se possível com acompanhamento profissional, pode-se chegar ao alívio de maneira um pouco mais fácil, devido ao apoio psicológico para poder expressar sua dor. A resistência ao luto ajuda na não superação da perda. Sendo assim, a ajuda profissional, a colaboração e acolhimento familiar, dos amigos, ou em alguma instituição que dá apoio, são fundamentais. E, no luto pelo seu Pet, não é diferente.
"O homem é lançado no mundo, e passa a vida construindo sua história, contudo, é consciente de sua finitude e dos demais seres vivos..."
Meu LUTO pelo meu PET, é diferente?
Não! Luto é luto! Não há como dizer que o luto por um animal de estimação, em que houve investimentos e trocas de amor, carinho, atenção e respeito, possa ser uma dor diferente, ou não possa ser sentida.
O luto é um "combo" com suas nuanças, etapas, formas e implicações. Temos que considerar que nos tempos atuais o pet já passou a fazer parte da configuração familiar dos seres humanos, considerado por muitos como um membro de grande importância. É preciso expressar o que se está sentindo, como, por exemplo, chorar o quanto lhe baste, se assim desejar. Essa dor não é uma simples dor, é uma dor com sentido, que tem uma razão de ser e possui um significado para a subjetividade de cada um de nós. E o ideal é viver essa dor em sua plenitude.
Há pessoas que conseguem lidar com o luto de forma mais branda e ainda consegue dar apoio aos demais, ou àquele que se sente mais debilitado. Temos que respeitar o tempo e as fases do luto de cada pessoa (a negação, raiva, culpa e depressão até chegar ao momento de aceitação).
Famílias com fronteiras que ajudam ou dificultam
"A pessoa que reage emocionalmente de forma mais controlada, não significa que gostasse menos do animal (ou pessoa)"
Mas, todavia, cada grupo familiar tem sua própria cultura e regras e, dependendo do tipo fronteira, esta, pode permitir, ou não, que a permeabilidade (facilidade) das emoções entre os membros familiares, seja mais fácil ou mais dificultosa na hora de expressar o que está sentindo. Em alguns casos torna-se necessário a ajuda e a intervenção de um psicólogo, dependendo da situação e gravidade. Há pessoas que já possuem o hábito de fazer terapia e, quando acontece algo assim, como a perda de alguém ou pet, torna-se mais fácil encarar tal situação.
A não-contribuição da sociedade sobre luto por Pet
A sociedade e as suas regras sociais, sempre rígidas, considerando certos comportamentos tidos como “aceitáveis”, muitas vezes, não reconhece o luto e o enlutado por um pet (ou outro objeto de perda que não uma pessoa), e acaba sendo cruel quando lançam alguns comentários, como estes:
“Você está assim por causa de um animal?”
“Parece até que morreu alguém da família!”
“Ah, já já passa. É bobagem...”.
E por aí vai tamanha falta de empatia...
"Não existe dor que seja maior ou menor, existe a sua dor de como você legitima e vive"
É muito fácil falar da dor do outro estando de fora. Mas, por outro lado, há pessoas que são empáticas também ao luto do outro para além da morte de um ser humano, e compreendem a necessidade de expressar seu sofrimento da forma que lhe convêm, sem julgamento.
A capacidade de sentir a dor do luto é algo subjetivo, e jamais passível de comparação. Não existe dor que seja maior ou menor, existe a sua dor de como você legitima, vive e revive.
Hoje em dia, é mais comum uma casa onde tem um ou mais tipos de animais de estimação que vive como um membro querido da família, e a própria sociedade contemporânea, está se adaptando a nova forma de constituição familiar. Inclusive, quando uma família precisa mudar de país, seu pet, hoje, é reconhecido como tal (família), e é acolhido por algumas companhias áreas para transportá-lo até a cidade ou país de destino. Cada companhia e país com suas regras que, seguido à risca, tudo dá certo para viajar com seu pet, pois ele é visto por estes como parte da família.
Criança em luto
"Quando uma criança já vivenciou algum caso de morte, é possível que ela compreenda melhor"
Quando a morte de um pet envolve criança, é necessário usar de honestidade com ela e, numa linguagem que cabe àquela idade da criança no momento. Mentir para a criança não é o melhor caminho, mas explicar o que significa a morte e que, quando isso ocorre, as pessoas vão sentir a falta do pet (ou pessoa). E que a saudade faz com que as pessoas chorem e fiquem tristes, porque, este (a), não poderá mais voltar. Quando uma criança já vivenciou algum caso de morte, é possível que ela compreenda melhor. Mas, se a família, ainda assim sentir dificuldades para conversar com a criança, é apropriado a ajuda de um psicólogo (a) para ajudar.
Eutanásia: Uma decisão difícil
Algumas pessoas quando precisam decidir pela eutanásia, em casos extremamente graves, muitas vezes, se sentem culpadas e sofrem bastante durante o luto devido a esse sentimento.
Mas é importante se pensar nesse momento que, tal atitude, ou seja, decisão tomada, foi o melhor para seu pet amado que sofria em demasia. Quando não há mais o que ser feito para salvar sua vida (do pet) é comum que continue apenas em tratamentos paliativos para aguardar a morte. E isso é muito sofrido tanto para o animal que sente e vive a dor da sua doença, quanto para quem cuida e vê seu sofrimento. A pessoa que cuida do pet doente, costuma ficar debilitada física e emocionalmente. Portanto, não se sinta culpado (a) por tomar tal decisão. Mas, se isso não for possível, procure ajuda de um profissional e fale sobre seus sentimentos.
Outro Pet imediatamente não pode servir para camuflar a dor
A possibilidade de ter ou não um novo pet tem que partir do enlutado. Forçar a pessoa ter outro pet (inclusive criança), neste momento pode acabar não permitindo a pessoa de viver a experiência do luto, da perda dolorosa e que precisa ser vivida. Mesmo que a pessoa aceite para agradar alguém, ou como desculpa para lutar contra o que está sentindo, corre o risco dela acarretar problemas no futuro, pois bloqueia a elaboração do luto pela perda, e pode causar consequências ruins ao longo vida da pessoa.
E não querer outro pet imediatamente é natural, ou futuramente por questões pessoais como, por exemplo, falta de espaço por que se mudou, ou falta de tempo devido ao trabalho, etc., é compreensível. Mas se recusar de forma irredutível em qualquer tempo e condição, daí é preciso entender melhor sobre essa atitude com ajuda de um profissional, pois essa forte negação, pode fazê-lo viver a angustia por muito tempo.
"O mais importante é acolher o sofrente (o enlutado) da melhor maneira possível, seja qual for o objeto de perda, e viver um dia de cada vez, deixando com que a pessoa faça suas escolhas com o passar do tempo, conforme ela vai se sentindo mais fortalecida"
Sabemos que cada pessoa sente seu luto dentro de um determinado tempo e espaço (luto é subjetivo a cada ser humano, não há uma regra igual para todos, e isso tem que ser respeitado, mas, desde que não ultrapasse muito tempo, tornando-se algo patológico).
Contudo, se o caminho percorrido do luto ocorrer da forma esperada, no geral, o enlutado consegue: aceitar a perda; se reorganizar pessoal e socialmente; será possível fazer novos projetos e, aos poucos, sair do período de enlutado.
"Logo, a dor se tornará uma saudade gostosa e uma lembrança boa de recordar, e normalmente, as recordações mais lembradas são dos momentos bons, felizes, e pouco se lembrará da parte tão sofrida"
Quando se vive o luto na sua totalidade, sem se bloquear, ou ser bloqueado (a) de forma forçada (este último, muitos vezes, vindo de família com fronteira muito rígida, com dificuldade de expressar sentimentos entre si), então, “o rio seguirá a margem de acordo com o que é natural, ainda que haja obstáculos", ou seja, terá sido uma experiência positiva e estará mais fortalecido (a) para a vida que vem mais a frente. E quem sabe, até adotar um novo membro pet de estimação para amar e ser amado (a), novamente!
Abraços!
Materia muito boa....parabens...